sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O natal caboclo no Sudoeste Babilônia - O Historiador Andarilho

São 3:43, duas banquinhas de dois bairros (gangs) se enfrentaram ali na rua Iguaçu... Lajotas foram quebradas são seu armamento bélico, vitrines despedaçadas, garrafas quebradas, nenhum alarme tocou, somente o que se escutavam eram os urros em altos decibéis dos habitantes de periferias de duas Pato Branco. O sangue caboclo se evidenciava na lua cheia.

Moradores do sertão, Pirata, Renanzinho, Xuxinha, Sakura, Magrinho Jones, Gordo BNH, Cara de Tilanga, antes eram anônimos agora vemos sua degladiação da janela de um apartamento. Os enfeites de natal contrastam com o clime de selvageria urbano, A REALIDADE. A Polícia não aparece, e o que seria chamado de impunidade penal ocorre, alguns psiquiatras chamam aquilo de "loucura coletiva", o não cessar do instinto em meio a tudo que a civilização esqueceu.

Civilização essa que é só de discurso, pois abandonou os direitos do cidadão como um mero documento. A destruição do "outro", chamado assim mas que também é morador de bairro, operário de médio padrão e que gosta de uma cervejinha nos fins de semana, os dois eram iguais mas foram incentivados pelo consumo a serem diferentes em suas roupas, carros para com isso conseguirem mais "gatas".

São esses os nossos meninos, um pouco distintos por evidenciarem a feição cabocla e "gringa" de bairros que são totalmente diferentes do centro. Eles negavam a oportunidade comprar o ideal de Jesus Cristo para si, aceitam uma única forma de amor que se transfigura naquele que é parecido com ele mesmo. Uns são "pretos de bairro", outros são "playboyzinhos branquelos", mas isso é mero discurso. Ambos foram jogados para a mesma coisa, para as mesmas dificuldades, entretanto uns se gavam, outros se menosprezam.

Se o sudoeste possui uma identidade, ela se esfacelava no seu próprio sangue. Somos vislumbrados nos programas policiais da TV local com o insucesso da criação, as mortes no trânsito e a vingança de um irmão morto. A periferia somente é lembrada nesses momentos, esquecida primeiramente pelo governo que nada governa a não ser a luz que vai para as árvores feitas de material reciclável.

A babilônia em chamas. Uma dessas árvores no seu verde plástico de garrafa de Soda Limonada queima em meio a praça, o desfecho da ilusão, fugimos de nossos instintos em favor de um Papai Noel Coca-Cola, quando nosso Papai Noel é um picolezeiro caboclo que entrega 36 presentes num orfanato, mas como ele não faz a barba e não toma banho não aparece na TV. Aqui não é Curitiba, mas pelo menos na esquina da maior loja de roupas da região é.

Vestidos nossos operários caboclos com a moda da vez. Levamos nossas filhas até a Boate para que seja despida pelo filho de um empresário e caso não queira se entregar a ele, a violência se torna inevitável. A periferia produz para a cidade "capital do sudoeste" peões durante o dia, a mesma TV que diz perseguir delinquência produz o discurso de que a indústria é o progresso. Jogamos nossa capacidade numa linha de produção, negamos sua criatividade e favor dos lucros que propagandeiam nossa "evolução social".

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

NAVIO NEGREIRO

postado originalmente em:
http://revistatrip.uol.com.br/blogs/trancarua/2008/12/05/navio-negreiro.html


Tô na rua. Escuto as sirenes dos carros de policia e o barulho do helicóptero do Datena que voa rasante sobre o centro de São Paulo. Viro a esquerda na rua do Triunfo e vejo entre as viaturas uma fileira de homens sentados, virados para a parede e com as mãos algemadas na cabeça. São todos negros.
Policiais civis do GOE, do GATE e de outros grupos especiais que usam roupas pretas e armas grandes fazem o cerco. São todos brancos.
Os negros são levados em fila indiana para dentro de um ônibus. Um ônibus cheio de negros sendo levados algemados por policiais fortes, brancos e armados até os dentes. A cena é a do navio negreiro.
Chego mais perto. São todos africanos. Nigerianos moradores do centro de SP. Ninguém pede documento, nem pergunta, nem nada. É preto, é africano, vai pro ônibus.
Alguns negros reclamam. Um se exalta. Um policial branco e gordo, armado com uma pistola, entra no ônibus e dispara continuamente um spray de gás pimenta. Fecha a porta e deixa os negros gritarem com os olhos em brasa e a garganta fechada. Alguns policiais brancos dão risada do lado de fora. Um negro desesperado por não poder respirar chuta a porta do ônibus e consegue escapar. É espancado por cinco ou seis policiais brancos que de tão entretidos com a agressão não percebem o fotógrafo que registra tudo de perto.
São muitos policiais mas não há espaço para todos baterem. Um dos que não conseguiram agredir o negro percebe a câmera e agride o fotografo. Mas o fotografo é branco e trabalha no maior jornal do pais. Leva só um tapa nas costas, alguns empurrões e é impedido de fotografar o negro, que já algemado continua sendo chutado.
Arregaçado de tanta porrada, o negro é posto de volta no ônibus, que segue viagem até o 3DP, na rua Aurora. Foram todos averiguados e soltos no mesmo dia. Era apenas mais uma operação padrão da policia de São Paulo.


A Carne
(Seu Jorge, Marcelo Yuca, Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que fez e faz história
Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar
A carne mais barata do mercado é a carne negra

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Diário de um Estudante

Nossos mestres? Não possuíamos muitos, a maioria daqueles que se diziam "mestres" eram por nós questionados numa sala com vidros quebrados, carteiras riscadas e chão deteriorado (enquanto a escola estava recebendo verba). Fomos políticos, filósofos, esportistas, economistas, teólogos e até eletricistas, jogávamos Fut-porrada, Campo-mourão Três cortes, gaseávamos (matávamos) aula subindo no contador de luz do ginásio ou pulando o muro lá pra trás da Caixa d'Água, apesar de feio dancei com a menina mais bonita do colégio na Festa Junina, fomos da chapa do Grêmio Estudantil, fundamos uma rádio escolar, assistíamos os jogos escolares, enfim... AAAAhhhh aqueles tempos, fizemos o que quisemos, só não fumamos maconha porque nos achávamos muito imaturos para tanto. Nossa juventude era regulada pelo que o professor de Filosofia chamava de "relações de poder", por isso ao invés de "oreia-seca" éramos os "galetões da gang do P@#$# Duro". Uma sierene inssurdecedora tocando, esse era o sinal para o recreio, portões fechados, "mestres" que não nos deixavam ir ao banheiro (uma vez um piá mijou nas calças dentro da sala de aula), éramos erradicados em instituições de ensino que mais pareciam detenções de regime fechado ou verdadeiras penitenciárias. Uma bomba explode no vaso do banheiro feminino, o aluno do 2o. Ano é expulso por revelar seu radicalismo e sua ira. A revolta ocorria depois da aula, o nosso radicalismo se materializava em carteiras jogadas para o alto, cadeiras ao chão e na até na horta. Nos arrependemos de algumas atitudes como essas, CLARO(!!!), pois elas nos marginalizavam, porém, reconheço também que eram as únicas atitudes possíveis e que usávamos para responder àquela repressão. Naquelas condições descobrimos que escola não nos formava cívica nem culturalmente, ela nos REPRIMIA e só víamos escape para nossos hormônios nessas ações. Se fomos marginais é porque fomos também marginalizados então digo, somos fruto da experiência que ELES fizeram conosco. Ainda assim, não falo isso com rancor, reconheço também que de ambas as partes faltou comunicação. Aprendíamos muito mais às vezes com os livros, filmes, internet e veículos de comunicação que entrávamos em contato fora daquele ambiente e era isso que botava medo NELES, combatíamos as VERDADES CONSTRUÍDAS ou as VERDEIRAS MENTIRAS que eles queriam inculcar em nossas cabeças. Sem vergonha alguma admitíamos: ÉRAMOS REBELDES. Aceitávamos a diferença: Nada como o encontro das raças, das etnias e das classes sociais: um gringuinho pequeno-burguês residido num apartamento de alto-luxo, um polaco barbichado morador de um bairro residencial, um caboclo meio italiano vindo do São Roque (zona rural de Pato Branco) e um gaúcho boleiro. Eles não conseguiram nos esconder, nos calar, nos censurar, nem mesmo nos omitir. Somos parte do floklore do Colégio La Salle, desabrochados nessas palavras. Sem pessoas como nós, escolas como essa não possuem História

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O ralo.

desperdiçam... roupas, CD's graváveis, pneus fritando, programas de domingo. Sento bem de boa em qualquer meio-fio e como um pão com mortadela...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

boi na linha é grampo da federal, portanto CÓDIGOS!


melhor deixe, ela saiu fora
caiu
fudeu
trepou pra azambigue
saiu com o goleiro Bruno
molhou o café na roupa do Gordines
zuo na periferia de Freitas Soares-MA
quem sabe faz ao vivo
lambeu o sovaco do Caxuxa
O Réc pulou de bico na piscina Olímpica
O daLuz saiu de zorba na sacada
O Mámi do posto vomito na geada


todo mundo tá ligado,
observando a cadelagem, a falcatrua,
traíram o Paraguai na guerra e querem usar o lote pra matar os Kaingang,
sem fins lucrativos, nós voltamos.

.eyecorp.

.

Aprender com as derrotas, mas aprender ainda mais com a falta de personalidade daqueles que querem te ver derrotado.

PATO X BELTRÃO - Recortes do conflito regional, um olhar antropológico no futsal paranaense.

(publicado no jornal Diário do Sudoeste e no Blog do CAHIS/UEPG em 12/04/09)

PATO BRANCO - 09/04/09 - 08:04

Olá Camaradas princesinos...
Depois de meses, volto a postar em correspondência de Pato Branco (daí?!) me dirijo aos estudantes de história pontagrossenses.

Aos historiadores ''moderninhos'', vaí aí uma pitada de realidade social relatada a partir de uma de folga na cidade natal, que não me permitiu o ócio nem num ginásio de futsal. No percalço de escrever a monografia, tirei um meio tempo (time off) para assistir o maior clássico do futsal paranaense. Foi ontém que se enfrentaram dois espectros do futsal sudoestino: PATO BRANCO x FRANCISCO BELTRÃO (O texto não possui uma análise técnica do jogo, mas é um relato da memória social por parte do historiador que procura discutir a identidade regional a partir das rivalidades criadas entre duas cidades do interior do Paraná.)


O espetáculo das massas armado no ginásio LAVARDÃO, antigo PATÃO, era marcado de início pela torcida organizada local: a CAMISA 6, denotada de emblemas que denotavam a símbolos locais - como o ''pato'' - e outros que identificavam-na com torcidas da capital como OS FANÁTICOS (ATLÉTICO) e a IMPÉRIO ALVIVERDE (CORITIBA). Uma manobra marcada por imagens da circularidade cultural no estado, colocava a fauna local frente a frente, a chamada ''marrecada'' beltronense saia em desvantagem por seu time jogar fora de casa.

Ao som de foguetes e rojões, os coros e palavras de ordem, que radialistas locais no dia seguinte identificavam como
''de baixo calão e impublicáveis'', muito me rememoravam ao discurso das torcidas organizadas curitibanas em finais de semana. O incremento do espetáculo era denotado não só por uma rivalidade futebolística, mas também a disputas que para o intelectual podem parecer sem sentido mas que são alimentadas por discursos como ''BELTRÃO NÃO TEM VIADUTO'' ou ''PATO BRANCO TEM MENOR POPULAÇÃO''.

Essa rincha antiga se precede pelo fato de as duas cidades serem as maiores da região, sendo que a disputa se ocasiona em descobrir qual das duas cidades é a CAPITAL DO SUDOESTE PARANAENSE. O espetáculo excede então as quatro linhas da quadra e insere também a identidade local num conjunto de debates iniciados desde a conhecida Revolta dos Posseiros de 1957 ou pela questão do Estado do Iguaçu.

As classes sociais se igualavam no olhar ao público, trabalhadoras e trabalhadores, donas de casa, meninos de rua, skatistas, boleiros, crianças, empresários e até o prefeito municipal eram assíduos ao primeiro toque da bola.

O amendoim era aperitivo e a cerveja era popularizada nas arquibancadas do ginásio. Já de início, a rivalidade é transferida a uma arena de 20 x 40. A habilidade dos jogadores em alguns momentos era incentivada por disputas anteriores econômicas e políticas e parecia que em alguns momentos para alguns jogadores o toques de bola eram o ingrediente para provar se PATO BRANCO OU FRANCISCO BELTRÃO era capital do sudoeste paranaense.

Como não possuo linguagem técnica referida ao futebol, preferi não me prender ao jogo, por ser mero coadjuvante ou observador do cotidiano. Mas ao ambiente de relações sociais que se tramava naquele momento, as relações de poder também se colocavam a prova, os atores sociais se desmascaram e o policiamento do ginásio ficava atento ao encontro das duas torcidas locais. Ééééé, além da camisa 6, a Fúria Beltronense, conhecida por ''marrecada'', se fazia presente no ginásio.

Em número desfavorecido era acanhada de início em expor sua bandeira tricolor num dos ambientes do ginásio que se cobria do manto rubro-negro da torcida da casa. Mas a torcida havia de aparecer, já que o grito que ecoava antes e durante o jogo: ''CADÊ FURIAAAA, CADÊ FURIAAAA'', na verdade,parecia uma convocatória a rivalidade local.

Dois lances do enredo marcam os sentidos dados ao quadro daquela noite. Em pênalti para o time da casa, aquela bola só podia ter entrado, mas não entrou, o que provocou o impacto aos olhares da população patobranquense e a colocou mais surpresa a um lance porterior.

Num bate-rebate, o ginásio incrédulo assistia o respingar da bola para dentro da linha do gol e o emblema do placar foi urgido pela comemoração provocativa do Camisa 4 beltronense. Isso ainda meio ao primeiro tempo que aguardava mais emoções ao espetáculo do salão.

O juiz sempre era identificado a personagens alusivos, ou era ''ladrão'', ou sua mãe era uma figura promíscua, poligâmica e sem pudor. Isso na representação discurso da torcida, em gritos que partiam das duas torcidas.

A carnavalização e o semblante dessas representações era comprometida aos fatos sociais, já que num momento de desfavorecimento emocional por tomar um gol a torcida pode sim identificar o árbtiro e sua mãe como quiser, já que a única forma de entrar no jogo é no grito. Uma parte dos ocupantes da arquibancada são o ginásio tentando exibir a democracia do xingamento.

O empate logo vinha com uma bola cravada no fundo das redes. A festa estava armada e o Pato parecia merecer o jogo que até o fim foi marcado por lances de quase gol por parte desse esquadrão patobranquense. Nesse momento se assume Maranhão, com sua habilidade ele é idenficado como ''Liso de bola''.

Entretanto, foi num lance de conflito que a casualidade da bicicleta de um Marreco acerta incoscientemento a cabeça do goleiro patobranquense, esse teve de ser retirado de campo por maca, sendo substituído pelo goleiro reserva que mal sabia de seu destino...

Em dois lances sem finalização nos últimos 30 segundos de jogo marcaram a posse de bola do goleiro beltronense Héder - um fantasma que abandonou o Pato Futsal anos antes, afim de procurar melhores oportunidades no futsal foi para o Beltrão Futsal. Seu olhar atento pareceu fulgaz, o goleiro adversário estava adiantado e um balão para o outro lado da quadra foi definitivo para selar um clássico com a vitória do time visitante.

É, e a bola ainda quicou antes de entrar num barulho que se aparentava ensurdessedor e que zombe até agora na torcida local e nas costas do goleiro patobranquense que acabava de entrar. Evento histórico mas que para muitos ali deveria ser apagado, a torcida calada sai do ginásio, só se ouvia alguns resmungos, enquanto que uma meia dúzia de beltronenses da Fúria tiveram de sair de fininho, no mínimo, ressabiados com o que poderia acontercer - e sem poder comemorar.

Pra mim, o resultado pouco importa, clásisco é clássico, jogo é jogo, etc, etc, etc, e nada explica a casualidade da História, nem de um jogo de futebol... O que me importou analisar foi a rivalidade criada a partir da identidade regional.

Entretanto, são eventos como esse que produzem coisas mais interessantes e que não podem reduzir a identidade da cidade a grandes nomes de bons jogadores que nasceram e jogaram aqui, como é o caso de figuras como Rogério Ceni e Alexandre Pato.

Se essa a cultura é moldada por enredos como um jogo de futebol que até coloca em campo disputas políticas entre duas cidades por referência na região, então Bakhtin e Foucault perderam o espetáculo de ontém. Espiando as relações até pela antropologia social, cabe aos historiadores continuar essa tradição...

Roberto Pocai é historiador, formando pelo curso de História - Bacharelado da UEPG. Já foi Coordenador Geral do CAHIS e hoje é mero espectador das relações sociais.

domingo, 11 de julho de 2010

Transitindo pensamentos, refletindo em acões, o bêbado alquimista.

(lapso do que não vivi, década de 1990, não recordo o ano extado).

E eis que em um bar, num desses momentos de ócio, o abrir da cerveja gelada, o servir em um copinho americano e o beber, não propõe apenas mais uma dose para a embriaguez. A distância e a duração se encontram não em uma mera “filosofia de boteco”, mas na investigação ainda sóbria de todo o processo que aquele produto levou até chegar àquela mesa. Plantar, colher, conservar, carregar, transportar (parar o caminhão), descarregar, armazenar, fermentar, maltar, engarrafar, transportar (de novo), descarregar, armazenar, gelar, servir e... o garçom dava as costas com seu avental amarelo enquanto todo meu raciocínio parecia estar ali parado e o período do seu acontecimento parecia possuir a mesma durabilidade de tempo para ocorrer a dilatação de um corpo (isso, bolhas da espuma explodiam, evaporava o álcool pela superfície do copo).
___________

As fotos ao lado descrevem esse processo onde do colher ao fermentar a cerveja é produzida (imigtrantes russos, carroções carregando barris, a chaminé exibindo o processo de fermentação no meio da cidade). A cervejaria Adrática, memorializada na cabeça dos botequeiros e dos cervejeiros da cidade de Ponta Grossa-PR não existe mais, a não nesse pequeno espaço: a memória.

Fica aqui o meu registro daqueles momentos que não vivi, mas que me comovem profundamente ao encontrar com aquele povo... aquele povo que não é latifundiário, nem radialista, mas que carregou consigo a vida de uma indústria, sem eles o progresso industrial não se sustenta é apenas discurso. Por último, uma foto que deveria significar muito, demolida ao chão a indústria que fora símbolo daquele discurso e que para os governantes daquele momento nem serve mais para ser restaurada, fica aí a imagem do esquecimento imortalizada digitalmente nesse blog singelo.

terça-feira, 6 de julho de 2010

fritando pneus, miolos e valores

dizia o narrador do Cavalo de Aço: "grito, tiro, revorvada e cheque frio do Banestado"

de 4 em 4 anos, a mesma mensagem.

pensava o narrador de futebol da maior emissora do país:

Agora TODOS, escutem: VOCÊS NÃO SÃO NADA, LIMPEM A MAQUIAGEM, ESCONDAM SUAS BANDEIRAS E LOGO VEM O SILÊNCIO (ninguém mais é brazileiro)

terça-feira, 15 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Manchete: COMEÇAM DEPOIS DOS ENTRAVES DECORRENTES DA BUROCRACIA AS ELEIÇÕES DO DAHIS!!!




Plantão, "Eleições do DAHIS mexem o terreno do micro-poder princesino da UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA":

(foto materializando minha imaginação na manifestação dos estudantes UEPG de História contra o aumento do busão em 2006)

O DAHIS, sucursaaal importante parida do seio do CENTRO ACADÊMICO DE HISTÓRIA (do qual o nome verdadeiro não posso ao menos falar por ter sido censurado), passa hoje pela sua segunda eleição. 2006: Lembranças minhas decorrem do antigo corredor do curso de História de um CAHIS onde apenas quatro pessoas se envolviam nos assunto político-acadêmicos do curso.

Duas chapas entram na disputa, assim como era para ter sido outra comissão eleitoral, assim como existem acusações do edital ter saído atrasado. Em entrevista pelo Emiéssieni Méssinger, o acadêmico idealista e revoltado Clodoaldo Chavéz relatou:
"ridicularizaram minha proposta de regimento, e tudo por quê? Denunciei a 124a. suspeita de golpe dentro do terreno do curso de História, algo que ocorre desde o tempo que os piratas anarquitas tentaram derrubar a professora Cirley do poder simbólico positivista do Centro Acadêmico, os prazos correram e ninguém falou nada, nem um 'piu', tinha gente se articulando desde a semana de integração para tomar o poder no DAHIS".

Na tarde de ontém, antes de fecharmos a redação do BLOG (hsauauis), uma disputa incessante pode ser assistida no auditório do bloco de História. E lá estavam além daquelas 4 personalidades inúmeros acadêmicos de ambas as chapas.

Uma delas é formada pela tendência Pós-Moderna e pós-estruturalista dos cabeludos, destacada também pela participação de membros foucacultianos gerados encefalicamente das surubas daquele careca em Santos, possuindo entre si membros ninfomaníacos e outros travesitdos de pais de família que mais parecem guardas munipais mas que na verdade frequentam Repúblicas e fazem interas para um tubão no mundo subterrâneo e norturno de PG Gotham City, mesclados sinfonicamente por uma trilha sonora de uma banda de Death-Melodic-Symphonic-Psichedelic Metal. A outra chapa se destaca no campo da religiosidade contra os ateus e profanadores da bíblia e é formada por membros da Pastoral da Juventude e da Igreja Universal, visualmente alguns rostos bonitos, outros com uma boca expelindo uma fumaça decorrente de um cigarro estranho e ilegal (sauihsuiah).

Nesse acento eleitoral, o micro-poder se destaca na expectativa dos egos inflamados e presentes nos gritos e ridicularizações com o outro. Para esses jovens, O OUTRO é sempre o problema, quando na verdade muitos deles pensam de forma parecida. Não se gostam, não porque um é socialista e o outro é de direita, mas porque um tem mais espinhas na cara e o outro torce para o Corinthians. Mas sabe, que depois de ter participado do que todos querem chamar de movimento estudantil, só tenho a incentivar esses seres a usar seus hormônios para tais fins pseudo-políticos.

Sim, pseudo-políticos, mas não menos importantes, pois apesar de uns estarem discutindo o posicionamento da 4a Internacional quanto a questão da isenção das políticas público-privadas no governo Lula e outros estarem mais deslocados a defender a sede física do Centro Acadêmico para fins culturais, a maioria que não vê a hora de tomar um tubão no final da aula ou correr pra casa assistir a Malhação com o filho do Fábio Júnior (os meus alunos de 10 anos também adoram ele) só vai conseguir libdinosamente votar na chapa que tem as únicas gurias gostosas do curso que se interessaram em entrar pra chapa (e olhe que são bem poucas naquele corredor).

Saudações ao eterno e jovem movimento(?) estudantil e a todos que ganharão a eleição e nunca mais aparecerão no DAHIS ou no DCE, como sempre aconteceu.

As útlimas da eleição do DAHIS, (efeitos sonoros jornalísticos: "tãdãdãdãdãdãdãdãdãrãããããã")

O DAHIS, sucursaaal importante parida do seio do CENTRO ACADÊMICO DE HISTÓRIA (do qual o nome verdadeiro não posso ao menos falar por ter sido censurado), passa hoje pela sua segunda eleição.

Daqui dos rincões do sertão sudoestino lavrado a sangue das disputas de bala e pelo trabalho cultivado pela mãos dos caboclos, imigrantes italianos, índios bugreados... Uma região carente de mestrados mas que possui a riqueza da miscigenação racial de um povo. Hoje volto humildemente pra repassar a meus con-cidadãos patobranqueiros as novidades do mundus politicus da mais importante cidade-estado dos Campus Generales.

Uma História tingida do sangue dos índios que jorravam do morro da Catedral e que por trás disso postulou para a eternidade dos tempos nomes como Zacarias de Góes Leme, Bonifácio Vileeeuuuula (não posso usar o nome verdadeiro por motivos judiciais), Barão do Rio Branco... e por que deixar de lado os nosso personagens folclóricos da antropólogia política? Nomes como "Jocelito, Joce, Jocelito"; Péricles - o soldado romano erradicado em nome para o corpo de um defensor da classe operária e do campesinato naquela região -; e o nosso amigo que também não posso falar o nome dele mas que foi dono de uma construtora que por acaso chamou um grupo de estudantes de História de "vagabundos, desinformados" após ser questionado com a seguinte pergunta nos recintos do auditório da reitoria em junho de 2006: "Qual a sua opinião sobre a lei que vai derrubar todos os prédios históricos de Ponta Grossa, sabendo que o senhor é dono de uma construtora e por isso vai ganhar muito dinheiro construindo prédios encima do passado derrubado?".

Histerimos grisalhos a parte, esse mesmo grupo de alunos após ter recebido em mãos o julgo histórico de administrar o CENTRO ACADÊMICO DE HISTÓRIA, vulgo CAHIS.

Duas tendências, estavam em cena naquele momento, uma havia sido eleita antes de minha entrada no curso de História e fora acusada PELAS COSTAS de não assumir compromisso acadêmico com as organizações estudantis para eleger um de seus membros, o LÍDER SUPREMO EINVEJADO para o cenário eleitoral local e se tornar futuros vereadores; a outra, DA QUAL ME ALIEI, extremamente radicalista no melhor sentido da palavra, algo decorrente da extração de ideias de raros textos marxistas-trotsksitas-lambertistas-thompsonianos que preconizavam a chegada do neo-liberalismo na Universidade como um raio, esses, ASSIM COMO EU, eram acusados também SEM NENHUMA PROVA de usar as entidades para financiamnento de partidos

que se preocupavam em criar richinha política entre uma dicotomia nem um pouco real: LICENCIATURA E BACHARELADO. Nesse aspecto, enquanto esses mitos que ficarão para História de Ponta Grossa por serem apoiados FINANCEIRAMENTE para apunhalar outros acadêmicos

terça-feira, 25 de maio de 2010

CRACK NEM PENSAR!!!



Começa mais uma batalha.

domingo, 23 de maio de 2010

Nu parte V - Após o intervalo, na vida, o café entre uma aula e outra.


(lapso - após 07/02/2010)

23/05/2010.
Escrevo... mais uma vez depois de outra sucessiva interrupção. Lástimas, culpas e o ponto final encerrava minha exposição. Dia após dia, vieram os desafios e a reconstrução, mas o projeto de se estabilizar teve de ser interrompido novamente.

E ela veio, a lágrima, outra emoção vem em algum momento inesperado, despropositada para me mostrar o quão frágil sempre fui. Mas não é uma fragilidade exposta no quebrar de uma vidraça, ela produzia naquele instante mágico a alegria refletida nos cacos daquele estilhaço. Como se cada raio-de-sol refletido no trincado da janela daquela sala me fizesse sentido. Eu protegia o que crescia neles, o conhecimento...

Crescem eles também, na verdade, não em suas cabeças, mas em seus gestos. E não sinto vergonha de abdicar da função de mestre ao pé-da-letra. Eles ensinam a si mesmos e a mim, eles se solidarizam. Respondem às própria dúvidas e, sobretudo, colocam à prova a evolução humana ao momento que em conjunto naquela salinha atrás daqueles PC's, perante os desafios do aprender...


Como espectador, os observo, nada de professor sabe-tudo, na realidade sou EU quem estou sendo ensinado.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Diário pós-estruturalista de um futurista indeciso intelectual amigo meu.

26 de outubro de 2011.
22:36


escorreguei no sabonete líquido, resbalei no piso desterritorializado, cai de cara no ralo iluminista.

VIVEU E REALIDADE MUITO ALÉM DA TEORIA!!!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quero ser chamado Álvarez.

um dia alguém disse: "mais uma vez, a paixão me trouxe até aqui, olho pra tudo que é meu com desprezo. Vim ao encontro da desilução, sou desagradável em minha escrita, em meu papo. Ora peito que palpita, mais uma vez desafiado e derrotado por não poder representar o amor entre os braços que te rodeiam. Tu tentaste, te parabenizo em tua derrota contra a imagem que construiu a desilução

...sei que ainda vou negar o que escrevi, o que falei pra alguém, tenho consciência que vão dizer que isso é coisa de boiola, de um frouxo incapaz de conseguir conquistar uma mulher entre todas. Se for falado como tal na boca daqueles que se dizem bem-feitores e machos dominadores, que seja. Mas nada me importa, agora só quero dormir sozinho no frio e curtir esse sofrimento. Ué, não é um sentimento humano, então vou curtir até o fim.

Tudo que queria era um psedônimo, digam que esse era um poema do Azevedo, um verso que precedeu o modernismo misturando poesia e prosa, mesmo bem antes de Drummond. Aliás, esse é outro. Me reflito na sua careca mórbida, senhor calvo e horrendo compositor. Pois vejo que com sua fama nada aprendi, pois diferente além dessa tela fria de um laptop pareço não magnetizar nada.

Somos a distorção, a desilução, a derrota amorosa. De que adiantam nossas vitórias literárias? Senhores leitores, ou melhor, senhores linchadores. De que adiatam? Se vamos envelhecer na eterna perspectiva afundada nos olhos daquelas que não temos. Nossas musas, à todas dedico, por mais que de nós nada desejem, cada caractere emitido desse teclado"..

Muito obrigado pela inspiração.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Nu parte IV - Defeito: queremos ser mudos


lapso, 19 de abril de 1997.
.

Eu me lembro, tinha 09 anos, comentavam na escola e hoje eu vejo que esquecemos, que queremos estar mudos, que depois de 510 anos estamos mudos...

Mas sabe o que é pior? É que....
Ainda cometemos os mesmo erros

Silêncio. Uma palavra, simbolizada na inocência de nossas ações ou no conformismo de nossas vidas? Durante muito tempo pareceu que foi uma simples palavra que significou nossa reflexão perante todos fatos que nos antecederam. Anulamos a História, negamos parte do passado como se ele não interferisse na atualidade. Fizemos nossas escolhas, no lugar dos derrotados ficamos com os vitoriosos, no lugar dos bandidos ficamos com os mocinhos, no lugar dos vilões ficamos com os heróis.

Criamos em nosso mundo em torno desses últimos, pois são esses que se alojam em nossas praças, em nossos museus, ali parados, estagnados no bronze e na representação de seus olhares firmes, sofrendo a ação do tempo, sendo enferrujados, enquanto trabalhadores e trabalhadoras movendo as engrenagens sociais transitam pelas cidades.

Portanto, não somos parte de uma sociedade parada e exatamente por isso não precisamos necessariamente legitimar uma História inerte, paralisada na inscrição de placas sólidas de um metal pesado e frio. Sobretudo, não negamos a versão dessa História Tradicional, ela cumpriu seu papel da forma como se propôs, legitimar as palavras emitidas da boca de bandeirantes, governantes, imperadores, presidentes, fazendeiros e dos ditos pioneiros. Porém, não podemos mais permitir que essa versão da História seja reproduzida singularmente como “verdadeira história”, tiramos dela a blindagem da imparcialidade e demonstramos que na realidade sua única grande capacidade não se permite a reconhecer no passado outras versões do processo histórico mas apenas justificar toda dizimação humana e ambiental que o “progresso” conduziu até o presente.


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O índio Gaudino foi morto nesse dia, só pra lembrar.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Nu parte IV - O odor, o som e a imagem do progresso

(lapso, uma madrugada de 2006)

O progresso atingia o interior, o asfalto queimado de borracha denunciava a pretensão de modernidade de uma cidade que almejava ser a capital do sudoeste do Paraná. Postos de gasolina são o lazer dessa mocidade citadina em na aglomeração urbana. Meninas de 14 anos já ativas consumidas pelo seu jeito dançam uma trilha sonora de batidas eletrônicas em volta das bombas de combustíveis, o odor etílico se confunde com o hálito de Vodka com refrigerante (o popular tubão) emitido das bocas de rapazes, estudantes universitários, paralisados na esquina pautando seu assunto no giro e no modelo da roda do carro que vai contornar a rotatória.

O ballet físico dos quadris precoces e femininos, bracinhos e perninhas em passos estonteantes é o coberto pelos olhares alheios, um dos rapazes de um círculo onde estão mais 3 e mais 2 moças não perde nenhum instante daquele chamado "remelecho" duma das coadjuvantes dançarinas (é, e seria o que?) de outro grupo reunido. 'Juzinha' (Juliana Ribeiro dos Santos) é namorada de 'Pinduca' (Paulo Henrique Bueno), ele já "se ligou" que o 'Thiaguinho do Bonato' está "de zóio" (observando atentamente) na "sua guria". Nesse caso o sentimento de posse é definitivo para o saldo do procedente conflito que terá como saldo perdas materiais como dois dentes, um retrovisor de uma Honda Biz e alguns mililitros de sangue.


Mas a noite continua, após o giroflex da viatura ter abafado visualmente o ambiente caótico de degladiação. O som da sirene é o suficiente para denunciar o que já ocorria antes, uma verdadeira competição musical de sons automotivos Som, imagem, todo impacto de cultura sofrido aos olhos daquela juventude "descolada" é automotiva. Os carros não estão somente nas ruas, estão no assunto dos jovens e na idealização do jovem. Gulherme Lopes Gonçalvez, o 'Gui', trabalha dia após dia numa grande empresa da cidade pré-industrial (isso pode ser concebido como ofensa a nossos governantes, sem essa intenção). Mês passado foi promovido no parque tecnológico, "dedurou" o soldador e pelo que os corretores da de recursos humanos chamaram de "mérito" passou a ganhar R$ 800,00. Com seu primeiro salário, ganho na quinta-feira, comprou uma calça de R$ 769,00, agora sonha em trocar seu Monza ainda não quitado (faltam umas 12 parcelas R$ 235,00) por um Golf GTI, outro sonho se materializa na vitrine da revendora de sons, ainda quer incorporar sua "caranga" com dois auto-falantes Pioneer última geração e mais duas cornetas para o som "sair tunado". O controle do orçamento do operário Gui está estourado, o que demanda uma maior atenção a qualquer pessoa, não é fácil viver nessas condições, o desejo de se "vestir bem", de andar "bem" - de carro, lógico, nunca a pé -, e de escutar um "bom som" - alto e com música no mínimo iguais a de todos os outros frequentadores das redes Petrobrás, Texaco e Shell.

Apesar das aparências a diversidade musical se torna algo surpreendente e bem presente nesses ambientes inflamáveis. O funk "come solto" em frente a Loja de Conveniência - conveniente? -, sertanejo é o som "da veiz" ao lado da calçada do Cachorrão - popular "Podrão" - e dance music é "o que mais vai rolá" na frente da Concessionária de Motos... Ahhh, rock n'roll tem também, antigamente eles costumavam escutar Black Metal, agora voltaram a escutar AC/DC e Led Zeppelin, antes possuíam cabelos compridos, agora começaram a trabalhar, bem lá nos fundos se apresentam com suas camisetas negras.

Enfim, em volta da rotatória continua-se a competição. Agora além do prêmio de "roda mais massa" existe a congratulação a manobras específicas do modelo de motos Honda Biz. Os critérios são colocados sobre os olhos da exigência do infinito número de jurados. Não é fácil ser 'Barrinho', Adriano Vasconcelos Medeiros, moto amarela, capacete rosa com duas estrelas brancas, cano de escape emitindo sons após ser abastecido com um improviso bem peculiar: naftalina. Inconfundível, saiu do posto acelerando ligando e entornando a chave de sua duas rodas, isso produzia um efeito físico de explosão no cano de escape da moto. Ser piloto profissional dos postos de combustível não deve ser uma papel fácil, visto ao momento que sua tentativa de empinar a Biz caiu literalmente ao solo bem em frente a todos os espectadores atentos. O troféu na verdade não existia, era simbolizado no poder, na sua confiança de conseguir "pegar mais minas", na sua estima para com os demais, seu único discurso era o ronco de sua moto, que fora apagado pela ausência de Barrinho, agora ex-piloto profissional da "galera", esperança apagadas no olhar de muitos e desmistificada no esfolão na lataria da parte esquerda da sua Biz.

O espetáculo continua. Garrafas quebras cobrem o solo enquanto marginalizadas crianças são mandadas por seus pais a catar latinhas (75 latinhas = 1 kilo = R$ 1,50). Mas são aqueles pés encardidos, aquela face que muito lembra o caboclo que é responsável por parte da limpeza das vias que se mitificam no progresso dos tempos. Promíscuas vias maiores das avenidas, sem fim, antes rota dos tropeiros agora cobrida História por esse negro alcatrão. O curso dos tempos é um corretivo que cobre a poeira e os valores, esquecemos tudo, não nos compremetemos com nada. O projeto de vida que vinha das famílias gaúchas de trazer sua cultura não foi aceita, a crítica desses jovens se coloca em eles não desejarem ser gaudérios, a face do povão definitivamente não é européia.


Descrevo o lazer, o divertimento juvenil e momentâneo entre sobreviventes, feridos e mortos (alguns por fumar algumas pedras de crack) na fragilidade da existência frente ao abandono e a anulação. Não descrevo com prazer essa aglomeração noturna que na verdade representa toda ausência. Nesse projeto de progresso, não vejo um projeto de cidade, não vejo escolas ocupadas aos fins de semana, teatros abertos, cinemas a disposição... as praças são coisas para velhos jogarem damas ou truco. O "gole" é o grande elemento de nossa jovem cultura e de nossos instintos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

sartririzando.

Domingão, São Paulo, 40 graus.
Carandiru lotado.



O inferno são os outros...



E o que é o céu? Após o banho de sol, Deus levou João Paulo Santos para a solitária. Feita sua vontade, resolvido o problema.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Drama via ondas sonoras de um boy da RODRIGUEZ ADVOCACIA


[batida sombria]
"Diogo Tavares da Silva Santos, mais conhecido
como Diguinho na quebrada, venha aqui nesses
versos pra fala da minha real. Dizer que coração
de vagabundo bate na sola do pé, qualquer Zé fala,
mas viver isso no cotidiano e correr contra o tempo
é pra a real de poucos, 2009 é nóis"...

Além da fachada do escritório, é nóis
na minha carteira de trabalho diz: office-boy
na rua faço meus pernaço,
pasta de couro com zíper embaxo do braço.

Minha mãe me chama de vagabundo,
disse que não devia ter me posto nesse mundo,
busão lotado, chego atrasado,
olho pra bunda duma loira admirado.

Café da manhã é às 7 hora,
uma coxinha na padoca,
sobrando no estômago até agora,
saiu 3 real, devia ter pegado uma paçoca,

A vida não é nenhum outdoor,
aqui não rima mas provoca dor,
pense além do decote da secretária gostosa,
lá pra dentro ela não é nada carinhosa

Entre todas as repartições,
a minha sala é 2x2,
personagem indignado, frustado,
fudido, mal-pago, me sinto enganado.

o selo cola no envelope,
eu selo a carta
embaixo do braço vai pro despacho,
pruma quebrada chamada Grande Riacho.

Na fila do banco, sou deprezado,
não sou acionista, não sou milionário
fone de ouvido, rola um mp3,
música que me inspira a levar esse salário por um mês.

No Circo dos horrores,
eu sou o palhaço,
termina o dia pareço um bagaço.

Ganho-poco,
Mal-tratado, se sair daqui virô pacoteiro,
balconista, entregador, auxiliar de produção, cobrador...
é isso que oferecem na Agência do trabalhador.

No fórum só mala direta despachada de um cara normal,
meu patrão vai libertar mais um criminoso pro convívio social,
a liberdade será desemprego quando sair daquela prisão,
só precisa o juiz aceitar a apelação.

Todos ganham bem, só eu que não,
o chefe come a secretária na contramão,
espera arrumar mais uns chave de cadeia,
safar a pele de um pra ele é arrumar um pé-de-meia,

O escritório é clausura,
na janela uma fresta, uma abertura,
calor, sem ar-condicionado,
sou otário, alimento de caviar um safado

a podreira e a burocracia sem conduta
papéis e carimbos e um cheiro de tinta
Bruna Rodriguez, essa sim é puta
diz que na virilha tem uma pinta.

Ela é filha do chefe, dá pra todo mundo na repartição,
o Zeca é estagiário, vive comendo, puxa-saco tem seu lado co patrão,
só que como ganho poco ela falaria que tenho pau pequeno,
de sainha veio aqui, fui dar um 'oi', não rolou nenhum aceno

Mequetrefe nenhum deveria mexer na minha banca,
numa escraninha, a realidade é mais cruel quando te estoram uma tranca...

depois de almoçado, pc ligado,
no msn xingaram meus contato,
deletaram meus torrent,
mandaram email xingando o advogado.

Tô na rua, incriminado, caguetarô meus pornô po adevoga,
carteira assinada saiu batendo asa,
mas também o salário era uma droga,
3 real na carteira, malandro pisando na sola.

domingo, 18 de abril de 2010

Nu parte IV - Testamento

a baixada inundada...

(lapso, 27 de outubro de 2009)

...fica para a cidade, a lembrança. Sobre o asfalto a lama, a água, o caos, o mundo urbano auto-denominado "civilizado" se depara com o que estava escondido abaixo das encostas. A mata ciliar era praticamente nula, o rio era coberto por inúmeras ruas da cidade, entre a mínima vegetação se abrigavam sacolas de supermercados preenchidas de lixo e inozadas em suas alças. O cenário de conflito urbano e omissão da natureza destoa da antiga Baixada no início do processo de urbanização de Pato Branco na década de 1960, o mundo urbano não podia cobrir o rio, passando pelas ruas recente Centro a população deveria cruzar por dentro do rio.

Tomando um chimarrão e conversando com Ivo Parzianello ele dizia: "antigamente a gente pescava no rio, hoje você só pega lixo ali ou coisas que é melhor eu nem falar". De uma ponta a outra, uma das localidades que é traçada pelo rio é o Bairro Bortot, ali não se despejam apenas dejetos descartados. Uma parte do bairro é dedicada aos ritos funerários alojados na cidade dos mortos, o Cemitério Municipal. Ao tratarem da situação do cemitério, as acadêmicas de biologia Marieli Bocchese, Luciana Pellizzaro e Janaína Bocchese revelam: "A maior preocupação é com a contaminação de solo e do lençol freático pelo necrochorume, substância originária dos cadáveres em decomposição que pode conter microrganismos patogênicos sob determinadas condições"[NOTA].

O dia 27 de outubro de 2009 ficou marcado para Pato Branco, nele 20 casas foram inundadas pelo rio, famílias perderam tudo ou o pouco que tinham. Não menospreza-se as perdas, mas pensemos na enchente como uma resposta...

Terremotos, enchentes, inundações... Uma sucessão de eventos catastróficos compõe o enredo de um telejornal. Nossa terrinha apesar de não ser atingida por abalos sismícos acaba recebendo notícias pautadas pelo impacto causado pela intervenção humana no ambiente. ONG's e instituições discutem o verde, outros chegam até a usar o verde como inspiração para tanto. A cor simboliza o todo como o negro muitas vezes representa a noite, o obscuro, o desconhecido. O verde é fauna, é flora, mas aparece ofuscado pelo avanço tecnológico do desenvolvimento. Indústrias passam a compor o quadro urbano, onde antes existia o natural, o nu do ambiente, agora vestimos a modernidade, a vitória da máquina, o ferro e o concreto ascendem uma segunda natureza.

Antes alguém vivia antes de nós, brancos e negros. Era uma vida diferente, entre aqueles rios, aqueles seres eram míticos das matas, não se resume uma vida a liberdade, mas caçavam, pescavam quando desejavam... Hoje, a fábrica é o controle de nossas vidas, máquinas enfileiradas entre corredores, lá de cima o patrão nos observa, somos controlados por uma grande relógio na parede que dita nossa jornada de trabalho. Pequenas janelas no alto do muro não nos permitem observar o tempo lá fora, o cenário não é uma paisagem de montanhas ou de campos e não ouvimos o cantar do galo nunca mais, somos ditados por um tempo criado por nós simbolizado no despertador alucinado que substitui essa ave nas manhãs da gloriosa manhã trabalhadora, construímos um outro tempo. Somos multidão, somos operários, com capacete, com macacão, assim como o palhaço usa maquiagem, peruca e uma roupa espalhafatosa.

Ouvimos a cada dia "a fundação do parque tecnológico-industrial gerará 2.000 empregos para a região", notícias que compactuam com a venda de informação sobre a desterritorialização do meio ambiente. Vivemos as rupturas e permanências num processo histórico onde o trabalho se coloca e a nossa natureza se retira, a cobertura é produto de uma sociedade espectadora desse espetáculo, vendamos a informação. A criação de empregos se torna o grande critério de qualidade de vida, resumimos nossa vida ao mundo do trabalho, sagramos o suor num Estado composto por um povo trabalhador. "Paraná aqui se trabalha", era esse o lema de um dos governos do estado nos anos de chumbo, um país que não possui dinheiro para industrializar-se empresta de outros, criamos a dívida externa para contemplarmos nossas obras. Somos os responsáveis por identificar o outro, "lá pra cima são todos vagabundos, não trabalham, ficam só na rede o dia inteiro", a imagem do ócio desse outro estereotipado e, na bem da verdade, pouco conhecido é o desprezo do nosso semblante cansaço, de nossas mãos calejadas.

A importância de um povo trabalhador se representa nos números. 2.000 empregos. 2.000 vezes a consagração do trabalho se passa nas nossas vidas. Mas os números não comem, não sentem dor, não choram, desnaturalizamos o homem, o tornamos um símbolo, uma representação, mesmo ele sendo trabalhador, descendente de italianos que sagraram os campos da região. Falar é mais fácil, ainda mais quando ele representa o desemprego, seriam também 2.000, mas não seríamos obrigados a encará-los, a vermos neles o sofrimentos, essa desobrigação é outra representação, do total conforto do nosso ócio e da mínima reflexão sobre a vida do outro. O espetáculo televisivo jornalístico se diz pronto e acabado mas padece de uma lógico de omissão de esquecimento.

Nossa História por esses interiores também segue tal fomento. Para nós aqui, uma Patrola Amarela é a História.

sábado, 10 de abril de 2010

Jornalismo sério, credibilidade, notícias de cidadania no interior do Paraná


Programa Plantão popular.
21Mz... 123.43 AM

[vinheta]
Bom dia, meu povoooooo,
com vocês pela nossa Rádio Esmeralda
pra te acompanhar no seu café em boa companhia,
com você Lúcio Fernando Borettiiiiiiiiii (efeitos sonoros)...
[/vinheta]

Boretti:
Bom dia, Tapejara, Guarazinho, Butiara, Irtiri, Bagualá, Jiguera, Patavó, Bitiruninga, Sulani e todos os municípios que tem os povos indígenas homenageados culturalmente em seu nome após a dizimação da colonização na nossa querida e amada, cívica e benemérita região Centro-Noroeste do Paraná.

Notícias de cidadania e serventia pública:

[quadro1]
Traficante Roberson,
mais uma vez aparece em Monte Alegre,
caos, um horror,
ele que tá nesses intreveiro,
droga, pedras de crack jogada sobre os corpos,
estupro, latrocinio e matação,
chupa cabra passa vergonha...
[/quadro1]

[merchan]
Pra você tomando seu café,
o negócio é açucar Morro Azul,
lá do canavial do meu tio,
pode conferir...
[/merchan]

[liga com quado2]
E por falar em açucar,
ocorreu na madrugada de hoje
o o desembuchamento de uma vaca
na rodovia indo para a Linha Rovílio Alves,
o animal foi encontrado esquartejado enquanto
um caminhão passava e estripava o que sobrava do cadáver mórbido, fétido e anacrofilático (isso é relatório do nosso especialista, o repórter Creoswaldo que cubriu o fato). Cresoswaldo: "Pois é Boretti, o animal foi desovado bucho por bucho jogado na pista, o médico legista vai prevenir e barrar a área que media a Vila Marinazinha".

Boretti: Tinha que ser, esses pelego da Marinazinha, nem vo fala nada, mas esses dias acharô um corpo carbonizado numa das valeta em frente àqueles barraco...
[/quadro2]

[quadro3]
Piazada do colégio Amadeu Bortolon cobrem de pau o aluno Diego Texerinha...
vingança de gang acaba no conseio tutelar...
[/quadro3]

[quadro4]
acidente de moto com caminhão Scania na Avenida dos tropeiros,
Luzino Bituruna: "morte de mulher sem capacete grávida que acabou inclusive abortando Boretti".

Boretti: e o marido? e o macho dela?

Bituruna: "pois é tchê, o cara fugiu pois tava com a cartera vencida no Detran"

Boretti: Continua ca genti, o noss plantão vai prum intervalinho rápido e já já tá de volta.
[/quadro4]

[intervalo]
O mundo de hoje não te dá opção.
Segurança pra você e sua família.
HgCIVIL Segurança Monitorada.

Não basta ser o melhor, tem que ser para você, e sob medida
Cozinhas Borel, tradição em cozinhas.

Prefeito Gilbardinho Barbosa:
Não basta Tapejara ser capital da região Centro-Noroeste do nosso querido estado,
temos que ser industrializados. Você que é empresário, proprietário de uma montadora de veículos européia, de uma fábrica de tecidos ou proprietário de uma manufatura de base nuclear venha instalar sua indústria em nossa cidade. A prefeitura de Tapejara cortou os gastos com alimentação e moradia popular, agora você empresário pode instalar sua indústria em lotes de até 5.000 metros quadrados com isenção do valor de lote e isenção de 25 anos deo IPTU, repetindo, 25 anos deo IPTU. Problemas com despejo de lixo e dejetos, nosso lotes ficam às margens do rio Canoinha. Tapejara é progresso, Tapejara é futuro.

Nossa comunidade é católica,
Não perca hoje às 19:30,
missa com Frei Adalberto Rocsgler transmitida ao vivo pela suuuuuuua Rádio Esmeralda (efeito sonoro).
[/intervalo]

[vinheta]
Boretti: Voooltando aqui com seu Plantão do Povo, notícias de cidadania e compromisso social.
Chama amigo de escomungado e é esfaqueado na frente do cemitério Arioswaldo Barbosa tá no cavaco, tá no cavaco na UTI...

Preso homem que matou mãe pra roubra 10ão pra fumar pedraaaaas de crack... É a pedraaaaaaaa da mortiiiiiiii (efeito sonoro).

[continua].


Todos e um.

Rodovia das Nações, km 13.

Todos iguais,
Todos normais.

Todos com seus chapéus,
Todos com seus anéis,

Todos com suas vidas,
Todos com suas folias,

Todos com seus agitos,
Todos com seus conflitos,

Todos com seus partidos,
Todos com seus bandidos,

Todos com suas religiões,
Todos com suas ambições,

Todos com suas idades,
Todos com suas verdades,

Todos com suas famílias,
Todos com suas crias,

Todos com suas cores,
Todos com seus sabores,

Todos com suas etnias,
Todos com suas fobias,

Todos com seus amores,
Todos com seus vigores...

Todos podiam ser um só, mas todos eram como uma estatística, enquanto números não comem, não sentem dor. E na saída da fábrica todos eram diferentes usando seus sentimentos representados em chapéus-coco ou nos seus pulsos adornados de um watch comprado no câmelo, alguns evangélicos, alguns católicos, alguns ...

Todos não eram nenhum. A menos que...

Frederico Lima Lopes, mais um descendente de italianos, auxiliar de produção, final da fila, lobo solitário rondava seus semelhantes que possuíam condições sócio-econômicas idênticas às suas - a diferença era seu incomodo, sua rinite, doença grave que afetava seu sistema respiratório. Mas ele, entre aqueles 400, infiltrado, era operário-padrão, a burguesia era adepta dele, simplesmente por fazer de conta que conhecia Caetano Veloso e Paulo Coelho. Um dia, sem querer, colocou na sua imaginação o grande plano de regeneração social, no circuito de seus pensamentos explodia a fábrica. Os escombros denunciariam uma atitude individual, a queda do advento do industrialismo paranaense. A arte da mente solitária do indivíduo, UM deles que não desejava mais ver aquele horizonte pela manhã ao abrir as cortinas de seu quarto 3x3, que não gostaria mais de absorver tão danoso ar daquelas chaminés.

figura 01: "Operários" de Tarsila do Amarail, rasurada pela ausência de Frederico entre Todos.
figura 02: o semblante do descontentamento.

Amar?!

Resposta ou adendo à conjugação do verbo "amar"
por Roberto Pocai

Amar é uma viagem,
é um processo,
é uma ciência,
é olhar ao horizonte,
é querer chegar lá.

Não importa o que passemos,
queremos estar lá. E de repente
quanto chegamos em nosso destino,
percebemos que o mais interessante
era estar com as mãos no volante olhando o
sol arder em nossos rostos...


Amar
por Maikon Scheres


Amar, é perder-se dentro de você!
Amar, é projetar sua inferioridade nos outros
Amar, é desejar a satisfação das suas vontades e caprichos
Amar, é manipular a si e os outros em proveito da vaidade coletiva
Amar, é sorrir para ser aceito e chorar para ser amado
Amar, é mentir quando preciso e negar quando necessário
Amar, é suportar seus defeitos e não tolerar o dos outros
Amar, é rir debochadamente do melhor amigo quando estiver longe de você
Amar, é sentir ciúmes dos amigos
Amar, é mentir que é feliz e negar a solidão
Amar, é querer e lutar para que sua voz se sobreponha a dos outros
Amar, é ser generoso e carinhoso com os inferiores e fracassados
Amar, é inventar um monte de histórias para que você se mantenha o máximo possível ocupado, e, no fim, não veja que sua vida vale uma MERDA ou nenhuma:
seus amigos são passageiros.
Os familiares só estão com você porquê eles precisam que você os enterre -
as pessoas temem os abutres.
Após algum tempo,
seu túmulo será usado como latrina ou na melhor das hipóteses como motel.
Verá que todos os seus sonhos foram ilusão
- aquele dia de trabalho que você foi mal-humorado não significa mais nada,
os seus sorrisos agradáveis já foram esquecidos.
Seu/sua amante, que lhe jurava amor eterno, queria apenas satisfazer-se a suas custas, igual você.
Seu patrão, pastor,Deus,livro, irmão,presidente,intelectual favorito, diploma,ideologias, carreira, dinheiro e ambições estão mais mortos e podres que você!
E o que nos resta? AMAR!!!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Nu parte III - O fracasso!?


(lapso 20 de fevereiro de 1996)


De repente, a história se tornou interessante...


Meu reflexo hoje sobre isso não se coloca entre a incursão e a colação de grau acadêmico. Foram algumas férias, visitas, olhares à rua que me fizeram encenar no meu mundo das idéias o enredo. Fatos registrados pelo curso da minha memória agora me fazem buscar outros relatos.

O que se pode falar de "amor" pela história não se colocava nos méritos de ser universi(o)tário, mas sim, em oportunidades anteriaores a isso, onde entrei em contato com o que chamava de
"pessoas comuns". Talvez aí haja descrédito ao registro acadêmico, minha eventual derrota origina outros interesses. Falar com tais pessoas seria fundamental, elas possuem muito a revelar além dos números, além dos censos. Descendentes de italianos. Essa singular informação não me permite ir além, a não ser que olhe atentamente as suas mãos calejadas, senhores, senhoras...
Se não podemos expor a alegria de uma população em números ou dizer que suas vidas se fundam na década de 1940 ou na produção de uva, como podemos expor esses relatos...
Quero contar a história da traidicional festa dessa cidade.
Só poderemos entender suas vidas, após decidirmos colocar a história oficial perante pessoas vivas. O que elas tem a nos contar? O momento onde todos se tornam personagens, onde todos se conhecem, se divertem e uns goles de vinho a mais já significam o vermelhar dos ruchunchudos rostos, aí está a vida.
Como podemos continuar?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Virtualidade das emoções.




Sentimentos virtuais me interessam,
tu aí eu aqui, coisa nada rara,

distantes, mas cara a cara,
tela a tela, as palavras nos expressam.


Tua foto diz tudo,
algo estampado
tudo que sei de um pvt,
há 2 anos havia te add,
mas nunca havíamos teclado.

Parceiros da madruga,
a insônia nos ocupa,

somos carne e unha,
palavras saem, uma a uma.

Somos algo momentâneo,
não jogamos bola,
nem somos da mesma escola,
sedentários, discutindo o rock contemporâneo.

Agora, se joga conversa fora,
se omite o sofrimento,
as rimas me fugiam há um tempo,

mas cara, eu te tenho agora.

Carência minha, comoção ressarcida,
somos doentes pós-modernos,

minimizo mulheres, flertes espertos,
pelo encontro de experiências vividas.

Teve dias que não me respondia,
a janelinha piscava, te chamava,
pedindo atenção, aclamava,

mas ali tu não mais existia.

Ausente, desapareceu como o sol poente,
pixerizado, tu era de novo descartável,
prefiria te chamar "amigo", indispensável,
nunca te vi, mas nesse canto do monitor, aparece sorridente.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Nu - Parte II

(lapso, 21 de Maio de de 2007)

Estava acordando, no chão (e onde mais poderia estar?), sentia que assim minha imagem seria revelada numa fotografia ainda mais decadente. Imortalizado digitalmente em fotos tiradas por mim mesmo ainda não era um junkie, precisava de mais, talvez esse seria o almejado, fim de semana após fim de semana... A Repúbica vivia cheia, gente que nem conhecia, uma bacia que era presente de casamento de um casal amigo servia para abastecer o apartamento de gelo, vodka, e quem sabe uma Coca-Cola para misturar e fazer o que chamávamos de "Tubão". Apesar de nem beber tanto, os discursos saiam boca a fora e o que todos pensavam sair inocentemente e involuntariamente partia de uma cabeça desenfreada nenhum pouco ingênua, fingia-me embreagado decaído na ideologia de um decadente anti-herói dos movimentos urbanos, ressucitado da sargeta onde queria estar jogado, do cacetete que na cabeça havia levado, das camêras que tudo haviam registrado...

Hoje eu lembro, acordando cedo, tomando café na cozinha, minha vida descomprometida com a ordem vigente ou pelo menos rememoro o porque que eu queria que ela fosse assim (apesar dos ditames da pequena-burguesia nunca haverem me permitido isso)... A memória põe na minha retina os outros, persongagens soturnos com seus goles, sobreviventes ou não, eu os carregava e minha alma engrata nunca atendeu aos seus convites de dar um "tiro" aqui ou um "tapinha" ali, qual é a memória entretanto que os pertence? O HOJE produz fotografias interessantes dessas figuras, alguns estão nas ruas, outros já morreram, na porta do quarto de um deles o título de sua obra: "O crack da bola"; colocada num cenário incrementado de um sofá rasgado; um colchão suado para um ser que pela pira fora deformado... Um corpo materializado, que preenche a camisa abarrotada, mal abotoada, vomitada, tudo isso para nós catastrófico, mas para ele cotidiano, alfórico...

Não pude ser o seu herói do movimento universitário... O mármore do apartamento da "mamãe" e do "papai" não se correspondem com o chão de tacos manchados daquela República... Minha decepção, a embalagem Activia diz "AGITE", aqueles persongagens me conteplam com sua ausência e eu os respondo ingratamente com meu abandono, com meu mérito, com meu diploma. A AUTO-RAIVA própria faz com que eu esgane essa garrafa de iogurte.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Nu - parte I.

(lapso, memórias de 12 de Junho de 2009)

Senti que vinha me pegando às coisas materiais (e isso já foi relatado característicamente numa música), senti que minha felação a antiquários e a gente morta não me fazia mais historiador... Queria poder registrar, catalogar, higienizar mas não apenas pela minha renite eu percebi que a História não me acordava de manhã, muito menos passava meu café. E se ela não batia minha porta era pelo motivo simples de que ela sempre foi orgulhosa com o ser humano e ela ocorria enquanto eu me fazia de rock-star ou me enganava na roupagem de um herói da classe trabalhadora. Se for assim, hoje prefiro que as pedras carregadas por aquele pedreiro sejam descritas minusiosamente no tocar da caneta num papel de agenda, isso antes que virem parte de uma construção ou sejam fumadas. Minha pose se faz perante o espelho, ali meu público me observa, sou eu único espectador, e ao invés de calças de couro ou de uma camiseta do Lênin a roupa da nudez me faz mais romântico quando descobri que poderia - de uma outra forma - amar a História.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Amanhecer da comunidade: A outra Curitiba

Curitiba, 11 de janeiro de 2010. 06:34.

Cercado de ruas, emerge o bairro, o arroio poluído e preenchido de dejetos e torna seu elemento. Jogados ao relento, o sofá e o fogão a lenha abandonados revelam um museu de antiguidades não tão antigas assim. O que antes era útil agora é parte de um habitat não mais pertencente a natureza, poucos faróis e buzinas revelam o território em cena, o mundo urbano suburbano...

Nem sai o sol já se escuta o barulho dos portões rangendo. Apontando a manhã vitoriosa esse é o proletariado saindo trabalhar, me encontro no acordado no bairro Gabineto, subúrbio curitibano. Abrem a portas da padaria da esquina, o balcão limpo é espaço um dos espaços de sociabilidade da comunidade. O horizonte mitifica as diversas territorialidades, aquém dos edifícios e dos condomínios alvorece o novo dia no bairro.

O historiador ainda não possui a sensibilidade com aquilo que ainda é um outro mundo, mas pouco a pouco, observando de casa a casa, de puxadinho a puxadinho, se define o imaginário de outras vidas. O sentimento se estampa no semblante de cada morador que se sente parte daquele pedaço, crianças brincam na rua, o braço tatuado na cadeia segura a mangueira e lava sua "caranga", automóveis com o motor aberto é consertado, a igreja evangélica abre para o primeiro culto e incitam a irritação do vizinho de frente "vai começá essa gritaria aí"... Se for assim será uma difícil competição com o som dos alto-falantes e cornetas que exalam o funk como hino do pedaço.

O caminhão buzina em frente ao ponto repleto de operários, uma criança passava livremente na rua, logo é chamada a atenção pela mãe, em frente passa o carro do geladinho (10 gelinhos por 1 real). Meu caminhar deflagra o bairro industrial, chaminés e fumaça vizinham o campinho de futebol quase sem grama, mas o jogo não é interrompido, pequenos meninos embarrados usando minúsculos calções apostavam 2 litros de Guaraná Antarctica... O convite do culto logo vem, uma Belina dirigida pelo próprio pastor fala em nome de Jesus, profetizando as pragas do Egito Antigo em analogia a crise mundial.

Cai a chuva nos telhados... Crianças brincam na rua enquanto a mãe chama para o almoço.

Logo a tarde, a regata e o bigode e o licor de mentruz na mão caracterizam um dos personagens do folclore do bairro, o contador de histórias é interrompido pelo dono do bar que o chama de mentiroso. Seu Baltazar retruca filosóficamente em sua defesa: "a mentira é uma verdade que não aconteceu". Acredito que disso nem precise falar, mas o carteado e o dominó fazem parte do ambiente e colocam em cena o desafio e a única rivalidade da classe trabalhadora além do Atlético e do Coxa, mas na parede dependurado está o tetra-campeonato do Corinthians (Curinthia).

Até o fim do dia, o ritmo parece o mesmo, pais e mães de família chegam em casa e a noite demonstra não só o refúgio nos bastidores da classe operária. Coloca-se em xeque o mito de fobia sobre o subúrbio na história de pessoas vivas e não mortas. As diversas temporalidades, a sociabilidade e o encontro noturno dos vizinhos expõe uma outra cidade, essa sem conflito.