quinta-feira, 22 de abril de 2010

Drama via ondas sonoras de um boy da RODRIGUEZ ADVOCACIA


[batida sombria]
"Diogo Tavares da Silva Santos, mais conhecido
como Diguinho na quebrada, venha aqui nesses
versos pra fala da minha real. Dizer que coração
de vagabundo bate na sola do pé, qualquer Zé fala,
mas viver isso no cotidiano e correr contra o tempo
é pra a real de poucos, 2009 é nóis"...

Além da fachada do escritório, é nóis
na minha carteira de trabalho diz: office-boy
na rua faço meus pernaço,
pasta de couro com zíper embaxo do braço.

Minha mãe me chama de vagabundo,
disse que não devia ter me posto nesse mundo,
busão lotado, chego atrasado,
olho pra bunda duma loira admirado.

Café da manhã é às 7 hora,
uma coxinha na padoca,
sobrando no estômago até agora,
saiu 3 real, devia ter pegado uma paçoca,

A vida não é nenhum outdoor,
aqui não rima mas provoca dor,
pense além do decote da secretária gostosa,
lá pra dentro ela não é nada carinhosa

Entre todas as repartições,
a minha sala é 2x2,
personagem indignado, frustado,
fudido, mal-pago, me sinto enganado.

o selo cola no envelope,
eu selo a carta
embaixo do braço vai pro despacho,
pruma quebrada chamada Grande Riacho.

Na fila do banco, sou deprezado,
não sou acionista, não sou milionário
fone de ouvido, rola um mp3,
música que me inspira a levar esse salário por um mês.

No Circo dos horrores,
eu sou o palhaço,
termina o dia pareço um bagaço.

Ganho-poco,
Mal-tratado, se sair daqui virô pacoteiro,
balconista, entregador, auxiliar de produção, cobrador...
é isso que oferecem na Agência do trabalhador.

No fórum só mala direta despachada de um cara normal,
meu patrão vai libertar mais um criminoso pro convívio social,
a liberdade será desemprego quando sair daquela prisão,
só precisa o juiz aceitar a apelação.

Todos ganham bem, só eu que não,
o chefe come a secretária na contramão,
espera arrumar mais uns chave de cadeia,
safar a pele de um pra ele é arrumar um pé-de-meia,

O escritório é clausura,
na janela uma fresta, uma abertura,
calor, sem ar-condicionado,
sou otário, alimento de caviar um safado

a podreira e a burocracia sem conduta
papéis e carimbos e um cheiro de tinta
Bruna Rodriguez, essa sim é puta
diz que na virilha tem uma pinta.

Ela é filha do chefe, dá pra todo mundo na repartição,
o Zeca é estagiário, vive comendo, puxa-saco tem seu lado co patrão,
só que como ganho poco ela falaria que tenho pau pequeno,
de sainha veio aqui, fui dar um 'oi', não rolou nenhum aceno

Mequetrefe nenhum deveria mexer na minha banca,
numa escraninha, a realidade é mais cruel quando te estoram uma tranca...

depois de almoçado, pc ligado,
no msn xingaram meus contato,
deletaram meus torrent,
mandaram email xingando o advogado.

Tô na rua, incriminado, caguetarô meus pornô po adevoga,
carteira assinada saiu batendo asa,
mas também o salário era uma droga,
3 real na carteira, malandro pisando na sola.

Um comentário:

  1. Hey Pocai, é o Carlos (do zine, do Psicodália, amigo do Marco).

    Passeando por esse mundo da internet maravilhoso, achei você. Gostei do poema, a propósito, bem cru.

    Vou te linkar, abraço!

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