sábado, 10 de abril de 2010

Todos e um.

Rodovia das Nações, km 13.

Todos iguais,
Todos normais.

Todos com seus chapéus,
Todos com seus anéis,

Todos com suas vidas,
Todos com suas folias,

Todos com seus agitos,
Todos com seus conflitos,

Todos com seus partidos,
Todos com seus bandidos,

Todos com suas religiões,
Todos com suas ambições,

Todos com suas idades,
Todos com suas verdades,

Todos com suas famílias,
Todos com suas crias,

Todos com suas cores,
Todos com seus sabores,

Todos com suas etnias,
Todos com suas fobias,

Todos com seus amores,
Todos com seus vigores...

Todos podiam ser um só, mas todos eram como uma estatística, enquanto números não comem, não sentem dor. E na saída da fábrica todos eram diferentes usando seus sentimentos representados em chapéus-coco ou nos seus pulsos adornados de um watch comprado no câmelo, alguns evangélicos, alguns católicos, alguns ...

Todos não eram nenhum. A menos que...

Frederico Lima Lopes, mais um descendente de italianos, auxiliar de produção, final da fila, lobo solitário rondava seus semelhantes que possuíam condições sócio-econômicas idênticas às suas - a diferença era seu incomodo, sua rinite, doença grave que afetava seu sistema respiratório. Mas ele, entre aqueles 400, infiltrado, era operário-padrão, a burguesia era adepta dele, simplesmente por fazer de conta que conhecia Caetano Veloso e Paulo Coelho. Um dia, sem querer, colocou na sua imaginação o grande plano de regeneração social, no circuito de seus pensamentos explodia a fábrica. Os escombros denunciariam uma atitude individual, a queda do advento do industrialismo paranaense. A arte da mente solitária do indivíduo, UM deles que não desejava mais ver aquele horizonte pela manhã ao abrir as cortinas de seu quarto 3x3, que não gostaria mais de absorver tão danoso ar daquelas chaminés.

figura 01: "Operários" de Tarsila do Amarail, rasurada pela ausência de Frederico entre Todos.
figura 02: o semblante do descontentamento.

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