sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O natal caboclo no Sudoeste Babilônia - O Historiador Andarilho

São 3:43, duas banquinhas de dois bairros (gangs) se enfrentaram ali na rua Iguaçu... Lajotas foram quebradas são seu armamento bélico, vitrines despedaçadas, garrafas quebradas, nenhum alarme tocou, somente o que se escutavam eram os urros em altos decibéis dos habitantes de periferias de duas Pato Branco. O sangue caboclo se evidenciava na lua cheia.

Moradores do sertão, Pirata, Renanzinho, Xuxinha, Sakura, Magrinho Jones, Gordo BNH, Cara de Tilanga, antes eram anônimos agora vemos sua degladiação da janela de um apartamento. Os enfeites de natal contrastam com o clime de selvageria urbano, A REALIDADE. A Polícia não aparece, e o que seria chamado de impunidade penal ocorre, alguns psiquiatras chamam aquilo de "loucura coletiva", o não cessar do instinto em meio a tudo que a civilização esqueceu.

Civilização essa que é só de discurso, pois abandonou os direitos do cidadão como um mero documento. A destruição do "outro", chamado assim mas que também é morador de bairro, operário de médio padrão e que gosta de uma cervejinha nos fins de semana, os dois eram iguais mas foram incentivados pelo consumo a serem diferentes em suas roupas, carros para com isso conseguirem mais "gatas".

São esses os nossos meninos, um pouco distintos por evidenciarem a feição cabocla e "gringa" de bairros que são totalmente diferentes do centro. Eles negavam a oportunidade comprar o ideal de Jesus Cristo para si, aceitam uma única forma de amor que se transfigura naquele que é parecido com ele mesmo. Uns são "pretos de bairro", outros são "playboyzinhos branquelos", mas isso é mero discurso. Ambos foram jogados para a mesma coisa, para as mesmas dificuldades, entretanto uns se gavam, outros se menosprezam.

Se o sudoeste possui uma identidade, ela se esfacelava no seu próprio sangue. Somos vislumbrados nos programas policiais da TV local com o insucesso da criação, as mortes no trânsito e a vingança de um irmão morto. A periferia somente é lembrada nesses momentos, esquecida primeiramente pelo governo que nada governa a não ser a luz que vai para as árvores feitas de material reciclável.

A babilônia em chamas. Uma dessas árvores no seu verde plástico de garrafa de Soda Limonada queima em meio a praça, o desfecho da ilusão, fugimos de nossos instintos em favor de um Papai Noel Coca-Cola, quando nosso Papai Noel é um picolezeiro caboclo que entrega 36 presentes num orfanato, mas como ele não faz a barba e não toma banho não aparece na TV. Aqui não é Curitiba, mas pelo menos na esquina da maior loja de roupas da região é.

Vestidos nossos operários caboclos com a moda da vez. Levamos nossas filhas até a Boate para que seja despida pelo filho de um empresário e caso não queira se entregar a ele, a violência se torna inevitável. A periferia produz para a cidade "capital do sudoeste" peões durante o dia, a mesma TV que diz perseguir delinquência produz o discurso de que a indústria é o progresso. Jogamos nossa capacidade numa linha de produção, negamos sua criatividade e favor dos lucros que propagandeiam nossa "evolução social".